REVIEW: ALAN WAKE 2

Análise Alan Wake 2 por imputa

Eu estou a dar em doido com este ano. Em pleno final de Outubro temos mais um GRANDE lançamento e potencial candidato do ano? Então está bem. Lá foram as minhas previsões a meio do ano, não é verdade? Mas vamos lá a isto que depois de ter terminado o novo Alan Wake 2 sinto que já consigo expor as minhas impressões finais de uma melhor forma.

Alan Wake 2 é uma sequela directa ao título de 2010 que se tornou um autêntico jogo de culto, e faz sentido aparecer agora, 13 anos depois, já que a Remedy já começou a estruturar melhor o seu universo ingame – do qual, por exemplo, Alan Wake e Control fazem parte.

Admito que pouco peguei no primeiro – e ainda menos me lembrava da sua história. Não, não peguei nele antes de entrar pela aventura que foi esta sequela, mas decidi passar uns minutos a ver um pequeno resumo em formato video no YouTube e rapidamente me apercebi que ia ficar com os miolos derretidos em tempo record.

Alan Wake tinha ficado preso na dimensão sombria no final do segundo título, e é exactamente essa narrativa que tem sequência neste novo jogo. Ao invés de controlarmos apenas Alan Wake, escritor com o poder de reescrever a realidade que o rodeia, estamos também na pele de Saga.

O título conta com 10 capítulos para cada personagem, e apenas conseguimos chegar ao seu final após completarmos todos esses capítulos. E, como é óbvio, que até a alteração entre personagens consegue ser confusa.

Time loops já tinham sido um dos elementos distintivos do jogo de 2010, e não podiam deixar de marcar presença também na sua sequela. É um conceito que por vezes pode ter uma sensação de “batota” no que toca ao encadeamento narrativo de uma determinada história, mas que funciona em perfeição em Alan Wake 2: é através desses mesmos time loops ou mesmo da passagem entre dimensões que o jogador é mantido num contínuo estado de confusão e mistério, que apenas se simplifica na recta final da história. Esta ambiguidade do que é real, imaginário ou sobrenatural também dá à equipa da Remedy a liberdade criativa de que precisavam para criar um universo que é, a meu ver, dos melhores a que tivémos acesso este ano.

Sinto que não devo falar muito sobre a história em si, até porque muito se poderia dizer sobre a mesma, para passar a um formato mais meu e que já tenho adoptado nas últimas análises. Vamos então falar dos vários pontos em Alan Wake 2:

GRAFISMO

Está aqui um dos títulos mais bonitos em que já tive o prazer de meter as mãos. É claro que vamos sempre dar à conversa da fidelidade visual e da quantidade de polígonos no ecrã, da tecnologia de iluminação ou de volumetric fog – mas Alan Wake 2 vai tão além disso: é um jogo, visualmente, genial.

Sim, graficamente é um dos títulos mais “next-gen” do mercado, é um título que dá uma autêntica master class no que toca à utilização de cores, de brilhos, e que estimula o jogador da forma certa a qualquer altura. É um jogo que conta uma história através dos seus cenários com excelência.

É também um título com uma apresentação como nunca tinha visto até agora. Alan Wake 2 consegue uma união de mediums de forma quase perfeita – intercalando videojogo com segmentos live action – mas nem sempre em ‘cut scenes’. É através desta apresentação que, a meu ver, grande parte do sentimento de imersão é criado.

Não só os actores fizeram um trabalho brilhante com a captura das suas expressões faciais ou movimentos corporais, como fazem também um trabalho incrível nas apresentações “live action” que podemos encontrar ao longo de todo o jogo.

E como é óbvio tenho que dizer também que o “lip sync” (ou a sincronização entre falas e lábios) além das expressões faciais estão também dentro dos melhores que já tinha alguma vez visto, seguido provavelmente de Horizon Forbidden West. O momento “uncanny valley” é normal surgir ainda hoje em dia quando temos expressões tão fiéis ao real, mas num título tão misterioso e tão ambíguo como Alan Wake 2 – esse efeito de “uncanny valley” adequa-se na perfeição e parece, por vezes até, ser propositado.

SONORIZAÇÃO

Em jogos de terror sinto que presto mais atenção do que o habitual à sonoplastia – ou comunicação através do som. É importante, para jogos com momentos mais tensos, conseguir comunicar ao jogador tudo o que se está a passar em redor dele: se temos adversários perto de nós, se há viscosidade no chão, se há alguém a passar por uma conduta que está mesmo por cima de nós. Alan Wake 2, tal como Dead Space Remake no início deste ano, faz um trabalho exímio também nesse ponto.

O voice acting é dos melhores deste ano, tal como o som ambiente que nos mantém, aliado a tudo aquilo que já referi relativamente ao ambiente gráfico do título, completamente colados ao título – mas sinto que há uma banda que merece aqui também o seu devido destaque.

Old Gods of Asgard é a banda que encontramos no jogo e que não só é composta por personagens fascinantes e que, em momentos, até conseguiram trazer uns momentos mais engraçados para oferecer assim ao jogador uns segundos para respirarmos fundo, mas que tem uma presença também fascinante no desenrolar do título.

As músicas são bem construídas, a masterização é bem conseguida, mas são os momentos em que algumas dessas músicas são introduzidas no jogo que me deixaram de queixo caído, literalmente, durante uns valentes minutos.

Se já tiverem jogado Alan Wake 2 sabem perfeitamente do que estou a falar. E se não tiverem jogado ainda não se preocupem que esses momentos vão ser bem óbvios.

UMA HOMENAGEM À ARTE

O universo da Remedy e mais especificamente de Alan Wake 2 é um universo que realça a capacidade criativa dos seus artistas, dando-lhes por vezes poderes sobrenaturais como a reescrita da realidade por parte de Alan. Mas não é exactamente isso que a arte consegue fazer? Cada artista tem o poder de contar a sua verdade através da maneira com que mais se sente confortável. Essas mesmas verdades têm, em Alan Wake 2, um impacto profundo no que rodeia o jogador.

Mas é a atenção e o respeito dado a essas mesmas formas de arte que me surpreende nesta sequela. Escrita, fotografia, cinema, pintura, música – são todas destacadas com classe, com criatividade e com profundo respeito para criar, também em Alan Wake 2, o que eu considero como uma autêntica obra de arte em formato videojogo.

Não há, a meu ver, outro jogo que consiga juntar tantas formas de arte com a competência e destreza de Alan Wake 2.

GAMEPLAY

Claro que estamos a falar de uma experiência narrativa incrível – acho que até agora já o dei a entender, pelo menos – mas há que falar também do gameplay no geral.

Alan Wake 2 é, para mim, uma espécie de Resident Evil 4 desacelerado.

Temos acesso a várias armas, a escassez de balas e recursos já habitual de outros títulos do género, e tudo com perspectiva “over the shoulder” que se mostrou revolucionária em 2005. As nossas personagens não têm o mesmo tipo de agilidade de um Leon, mas sinto que também não faria sentido num título como Alan Wake 2.

Além disso, temos acesso a algumas ferramentas para solucionarmos os puzzles com que nos vamos deparando ao longo da aventura como uma certa lanterna, se lhe quisermos chamar, de Alan e alguns elementos mais distintivos como luzes colocadas pelos cenários que oferecem ao jogador um local seguro onde não pode ser atacado.

Enquanto que pode não ser tão revolucionário como RE4 foi em 2005, é um jogo que compensa o que pode não ter em termos de ação com puzzles constantes que podemos resolver de variadíssimas formas.

Lembram-se de dizer que a arte pode reescrever a realidade? É bom que se habituem a essa ideia!

UM MUNDO MAIS SOMBRIO QUE ASSUSTADOR

Eu tenho que admitir que me mantive reticente a entrar neste mundo desde muito cedo. Survival horrors não são, DE TODO, a minha praia. Eu prefiro aventuras que me deixem bem dispostinho e que me permitam ir-me rindo ao longo do caminho. Mas não é, de todo, o que Alan Wake 2 oferece.

É um jogo tenso e intenso – um jogo que nos mantém investidos, alerta, e reticentes, por vezes, em virar a próxima esquina num beco mais escuro. Mas no fundo não é um jogo propriamente assustador ou que nos faz saltar da cadeira de 5 em 5 minutos.

Quer dizer, não é? Secalhar tenho que reavaliar esta última parte do texto porque se há algo a que tive que me habituar foi aos jumpscares matreiros que a Remedy meteu pelo meio em Alan Wake 2.

Não me entendam mal – os jump scares são bem colocados, fazem sentido para a história e ajudam a manter um certo nível de adrenalina. Contudo, é provavelmente o ponto a que menos achei piada neste título. É claro que é também uma questão de gosto pessoal, mas senti que a maneira como esses mesmos jump scares se apresentam podia ter sido mais polida ou vá, criativa.

Pensamentos finais

Eu sinto que estamos perante outro daqueles jogos que vai dar que falar durante imenso tempo e que vai ficar na cabeça dos fãs de Survival / Horror durante muitos anos. Aliás, com a abordagem por vezes psicadélica de um Psychonauts e com a mestria de story telling visual que transcende o que experiênciámos num Hellblade: Senua’s Sacrifice – Alan Wake 2 vai-me ficar na cabecinha durante uns bons e valentes anos, e há-de ser dos jogos que mais irei recomendar, seja a fãs de videojogos ou a pessoas que estejam a dar os seus primeiros passos na indústria.

Aliás, não fosse Baldur’s Gate 3 acho que estava aqui mesmo o meu candidato favorito ao título.

Mas vamos lá acabar isto. Querem nota não querem? Então fiquem lá com uma:
Alan Wake 2 é o meu terceiro 10/10 do ano. Uma autêntica obra prima.

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